História
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Trancoso foi uma das mais importantes vilas medievais portuguesas, já que, devido à sua posição estratégica, constitui um dos pontos mais avançados da reconquista cristã para sul. A posição dominante do castelo actual, com os seus quase novecentos metros de altitude, faz-nos crer que, desde sempre, essa situação foi considerada pelos povoadores de todas as épocas. Naturalmente que Trancoso seria um pequeno povoado e não devia ultrapassar o espaço intramuros, que se circunscreveria certamente no ocupado hoje pelo castelo e pouco mais. Após a invasão de povos como os romanos e os godos, a povoação terá evoluído, mas nenhum documento nos permite concluir, quer a dimensão dessa evolução, quer o seu processamento.
Aliás, notícias sobre Trancoso, propriamente dito, só nos aparecem em 960, séc. X, data em que, como povoação acastelada, foi referido na doação testamentária feita ao Mosteiro de Guimarães por D. Flâmula, filha do conde D. Rodrigo e sobrinha da célebre Mumadona Dias, senhora de imensas terras ao sul do Douro. Tratava-se já de um importante castelo, embora um dos muitos que a dita dona possuía nesta vasta região.
Durante os dois século seguintes, o seu território foi duramente disputado por mouros e cristãos, em batalhas que se arrastaram até ao séc. XII. A presença árabe em Trancoso não estará perfeitamente esclarecida, mas é um facto indiscutível que estes ocuparam o castelo por largo tempo até que em, 1160, D. Afonso Henriques o conquista definitivamente.
A concessão de foral, por D. Afonso Henriques, confirmado mais tarde em 1217, por D. Afonso II, permite a reconstrução do perímetro muralhado e acaba por o conduzir Trancoso a uma época de maior desenvolvimento.
Trancoso no séc. XIII, tem já uma grande importância. Tornara-se um local de intensa actividade comercial, por força da periódica reunião de feirantes, de que iria resultar, ainda nesse século, por decisão de D. Afonso III, a criação da sua feira franca.
É, porém com a escolha de Trancoso para lugar do seu casamento com D. Isabel de Aragão que D. Dinis confirmará a importância assumida por esta terra na era de Duzentos.
A vila, até 1297, circunscrever-se-ia a uma área de, no máximo, cem metros em redor do seu castelo. Verificando, todavia, que a população se expandia extramuros, D. Dinis decide ampliar-lhe as muralhas, abrigando a nova cerca, casas e terras que rodeavam a fortificação. Essa preocupação de redimensionar Trancoso, transparece na importante medida tomada em relação à sua feira franca anual que, por directiva de D. Dinis, em 1306, é usada como modelo para a criação de uma segunda feira, desta vez mensal, fixando a sua duração em três dias.
Esta ampliação, assaz importante e necessária, permite-lhe ainda conseguir duas contribuições fundamentais para o seu futuro dimensionamento: o da formação do vasto bairro judaico (que contribuiu ao longo de vários séculos para o progresso económico da região), e o traçado da famosa via – rua Direita e presentemente rua da Corredoura, – que há-de demarcar e até dividir todo o característico traçado do burgo medieval no final de Quatrocentos e mesmo nos séculos seguintes.
Trancoso foi também uma das terras que tomou o partido de Mestre de Avis na crise de 1383/85, acabando por ter que defrontar as forças de D. João de Castela, na Batalha de S. Marcos a 29 de Maio de 1385.
João I não tarda em mandar reedificar-lhe os muros, confirmando a 12 de Janeiro de 1391, todos os foros, privilégios e liberdades. Em 1510, Trancoso vê de novo o foral ser renovado, desta vez pelo Venturoso D. Manuel I.
A valentia e patriotismo das suas gentes continuaram a mostrar-se ao longo dos séculos seguintes, com a sua participação em vários episódios de evidente relevo histórico, tais como a Restauração de 1640, a Guerra da Sucessão de 1704, as Invasões Francesas entre 1807 e 1810 ou a Revolução Liberal de 1820.
A partir do final do séc. XIX, Trancoso extravasa as muralhas e começa a ocupar os terrenos adjacentes, atraindo pelo seu maior desenvolvimento comercial e de serviços, parte das populações das suas freguesias.
Contudo, a vila medieval de Trancoso, não foi apenas palco de actos históricos. Foi também o berço de inúmeras personalidades ilustres. De entre tantos outros filhos da terra destacam-se:
– Gonçalo Vasques Coutinho, Alcaide de Trancoso, 2º Marechal de Portugal, e grande vencedor da Batalha de São Marcos;
– Gonçalo Anes Bandarra, sapateiro-profeta, que exaltou a imaginação sebastianista do povo português;
– Gonçalo Fernandes Trancoso, considerado por alguns o primeiro grande contista português do séc. XVI;
– Fernando Isaac Cardoso, famoso médico judeu-converso;
– Afonso de Lucena e Francisco de Lucena, distintos políticos e diplomatas do séc. XVII.
A vila de Trancoso foi elevada à categoria de cidade em 9 de Dezembro de 2004.
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